Por Henrique Machado
Se existe algo que une o passado e o presente da política no Guará é o fato de que a cidade segue sendo tratada como moeda de troca entre deputados em busca de poder e favores. Entre 2014 e 2022, o Guará esteve sob o domínio quase pastoral do distrital Rodrigo Delmasso, um político evangélico que confundiu gestão pública com púlpito, transformando a Administração Regional em anexo de igreja. Suas indicações não tinham qualquer compromisso técnico ou afinidade com a cidade — eram nomeações de conveniência, feitas para atender aos interesses de um grupo político-religioso que via no poder público uma extensão da missão pastoral. A cidade, claro, pagou o preço: praças abandonadas, obras paradas, centros culturais trancados, descaso com o esporte, sucateamento de equipamentos públicos e uma gestão que funcionava na base da fé — porque na base do planejamento não funcionava.
Se alguém acreditava que, com o fim da tutela de Delmasso, o Guará respiraria novos ares, bastou 2023 chegar para descobrir que a única coisa que muda é o nome do padrinho. Sai Delmasso, entra Gilvan Máximo — e com ele, a turma do Riacho Fundo. O novo apadrinhamento veio pelas mãos do deputado federal que levou para a Administração Regional do Guará o gestor Artur Nogueira, figura estranha ao cotidiano da cidade, mas muito alinhada aos interesses de Gilvan e do Palácio do Buriti. Mais uma vez, a comunidade do Guará foi ignorada. Mais uma vez, um administrador foi imposto de cima para baixo, sem consulta, sem transparência, sem qualquer vínculo real com a cidade.
Desde então, o que se vê é a continuidade do mesmo ciclo viciado: uma administração que se preocupa mais em parecer eficiente do que em ser de fato. As redes sociais da Administração são bem movimentadas, com direito a vídeos, fotos, premiações e cerimônias, mas basta andar pela cidade para perceber que o discurso não se sustenta. A coleta de lixo falha, as quadras estão sujas e esburacadas, praças e parquinhos continuam degradados, o Complexo Esportivo do CAVE segue em ruínas, e o Teatro de Arena, símbolo cultural da cidade, permanece fechado ou subutilizado. A cultura, aliás, é tratada como figurante. O foco é na visibilidade política, nos anúncios megalomaníacos e nas obras feitas para inglês — ou governador — ver.
Enquanto isso, a Feira do Guará, uma das mais importantes do Distrito Federal, virou campo de batalha entre gestores e feirantes. Falta diálogo, sobra truculência. E por trás das cortinas, há um controle político evidente sobre a direção da feira, usada como instrumento de barganha e palanque eleitoral. A regularização do Polo de Moda, outra bandeira propagandeada como avanço, é, na prática, mais uma moeda de troca entre lideranças do setor e o padrinho da vez. Nada é feito por convicção, mas por conveniência.
Gilvan Máximo, perdeu o mandato por conta das sobras eleitorais, mantém seu poder local à base de cargos, convênios e favores. A Administração do Guará virou extensão de seu projeto político — e o administrador, seu funcionário de confiança. Artur Nogueira não presta contas à cidade, mas ao deputado e ao governador. O povo do Guará, mais uma vez, foi deixado de fora da equação.
É justamente esse o ponto central: o Guará continua sem poder escolher seu próprio administrador. Enquanto isso, políticos de fora seguem tratando a cidade como curral, loteando cargos e definindo prioridades com base em alianças partidárias, não nas reais necessidades da população. A gestão pública virou vitrine de vaidade, os problemas crônicos foram maquiados por prêmios e estatísticas, e o cidadão virou espectador de uma ópera política encenada sem roteiro popular.
Trocar o padrinho não muda o sistema. Gilvan e Delmasso são apenas os dois lados do mesmo governo: um governo que trata o Guará como território conquistado e não como comunidade participativa. Um governo que se diz democrático, mas ignora a escolha direta do administrador regional — o mínimo que se espera em uma gestão republicana. Um governo que impõe, centraliza, controla e ainda exige aplausos.
Enquanto a nomeação continuar sendo um favor político, o Guará continuará sendo gerido por forasteiros de confiança — confiança dos deputados, nunca da população. E assim seguimos: mudam as moscas, mas a gestão continua a mesma.
Perfeito retrato do Guará: terra de ninguém, loteada de cima pra baixo por coronéis de terno e gravata. Enquanto isso, o povo varre a própria rua, tapa buraco com fé e engole discurso pronto em vídeo de rede social. Vergonha é pouco: querem voto, mas não querem ouvir quem mora aqui. Trocar o padrinho é só trocar o fantoche. O Guará não é curral, é casa de gente trabalhadora — e quem não sabe disso que arrume as malas.
ResponderExcluirGuará não é curral de político. Trocar padrinho não muda nada: seguimos com forasteiro mandando e morador pagando o pato. Chega de vitrine, queremos gestão de verdade!
ResponderExcluirEnquanto Guará for moeda de troca, praça vira mato, teatro vira ruína e o povo vira palhaço. Querem voto? Pois aprendam: cidade não é balcão de favor. Respeitem quem mora aqui!
ResponderExcluirCorreta a análise política da cidade. Infelizmene é a população quem perde. Enquanto isso, a construção civil se aproveita para construir seus "arranha-ceus", prejudicando a mobilidade e a infraestrutura do guará.
ResponderExcluir