Poucos meses após o anúncio da tão aguardada manutenção do Teatro de Arena do Guará, localizada no Complexo Cultural e Esportivo do Cave, a realidade que se impõe é desanimadora. Com investimento de aproximadamente 600 mil reais, viabilizado por emenda parlamentar da deputada distrital Dayse Amarilio, o espaço já apresenta sinais de desgaste que comprometem sua função pública e cultural.
A manutenção, executada por empresa contratada pela Administração Regional do Guará, foi entregue com alarde no fim de 2024, após duas décadas de abandono. À época, o engenheiro responsável, David Vieira, garantiu que o espaço estaria pronto para receber grandes eventos, destacando melhorias como troca de iluminação por LED, reforma dos banheiros, manutenção elétrica e hidráulica, além da pintura das arquibancadas – que comportam até 10 mil pessoas e do piso.
No entanto, a entrega da reforma parece mais uma maquiagem superficial do que uma revitalização efetiva. A pintura das arquibancadas e dos pisos já revela descascados e manchas incompatíveis com o pouco tempo de conclusão da obra, indicando que materiais de péssima qualidade foram ali utilizados.. Banheiros estão novamente deteriorados, com portas sem maçanetas e sem energia elétrica impossibilitando qualquer uso digno por parte da população.
A situação gerou revolta entre artistas e produtores culturais do Guará, que veem no teatro não apenas um espaço físico, mas um símbolo da memória e da identidade da cidade – palco do primeiro show da Legião Urbana e reduto de movimentos culturais históricos.
A exclusão do espaço do polêmico projeto de Parceria Público-Privada (PPP) do Complexo Cave, conquistada graças à mobilização de coletivos culturais da cidade, foi uma vitória. No entanto, o que se observa agora é a gestão pública reproduzindo os mesmos erros que a população temia de uma concessão privada: falta de compromisso, descaso com a manutenção e ineficiência na fiscalização das obras.
A deputada Dayse Amarilio, autora da emenda que garantiu o recurso para o que seria uma reforma, merece reconhecimento. Sua atuação atendeu a uma demanda legítima da comunidade e possibilitou a primeira intervenção no espaço em décadas. Entretanto, a responsabilidade de aplicar bem o recurso e garantir qualidade à obra é da Administração Regional do Guará, que falhou rotundamente.
É inadmissível que um investimento de tamanho vulto resulte em um espaço ainda inacessível e deteriorado, impedindo sua utilização plena por artistas, educadores, coletivos e pela própria comunidade. A cultura guaraense não pode continuar sendo tratada como um problema menor dentro da gestão pública.
Fica o apelo: que a Administração do Guará cumpra com seriedade a obrigação de fiscalizar e manter os equipamentos públicos sob sua responsabilidade. E que a população continue atenta e exigente, pois cultura não se improvisa — se constrói com respeito, zelo e continuidade.
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