Em meio às comemorações pelos 56 anos do Guará, um dos maiores patrimônios culturais e econômicos da cidade vive uma crise institucional sem precedentes. Feirantes da tradicional Feira do Guará denunciam abuso de poder, perseguição política e terrorismo institucional promovido pela Secretaria de Cidades do Distrito Federal (SECID), que tenta impor a qualquer custo uma nova associação — a ASFEG — em substituição à histórica Associação dos Feirantes da Feira do Guará (Ascofeg).
A manobra, considerada por muitos como uma intervenção disfarçada no processo democrático de escolha de representantes, vem sendo conduzida por meio de um Comitê Gestor montado de forma ilegal, segundo juristas e representantes da atual diretoria da Ascofeg. Embora o Decreto nº 38.554/2017 preveja a criação desse tipo de comitê apenas na ausência de uma entidade representativa ou em caso de inviabilidade administrativa por conta de grave conflito, o que não é o caso, a Ascofeg possui diretoria eleita democraticamente e contas aprovadas judicialmente. Ainda assim, foi arbitrariamente excluída do processo decisório.
O episódio mais recente dessa ofensiva política foi a convocação da eleição da nova associação ASFEG, marcada para esta segunda-feira, 19 de maio. Feirantes denunciam que estão sendo alvos de ligações telefônicas com ameaças veladas, em que o direito de manter ou renovar suas permissões de uso dos boxes está sendo condicionado à participação na assembleia e na eleição da ASFEG. Trata-se de um claro cenário de coação, que atenta contra os princípios democráticos e associativos.
A única chapa inscrita para o processo eleitoral da ASFEG é formada exclusivamente por integrantes da Asperfeg — associação criada por membros da chapa derrotada nas eleições da Ascofeg em outubro de 2023 e que na sua maioria devem mais de 180 mil reais de taxas para a Feira. O candidato à presidência é Alexandro Ferreira de Menezes, diretor da Asperfeg. A condução do pleito também levanta questionamentos: a presidente da Comissão Eleitoral é Rosevelth Lima de Freitas, que acumula os cargos de presidente do Comitê Gestor e advogada da Asperfeg, o que compromete totalmente a isenção do processo.
Além disso, o Artigo 8.4 do edital de convocação da eleição da ASFEG proíbe expressamente a participação de integrantes de diretorias de outras associações. Membros da Ascofeg foram impedidos de concorrer, enquanto os integrantes da Asperfeg, igualmente enquadrados na regra, seguem na disputa — o que demonstra um direcionamento escancarado e ilegal..
No dia 11 de maio, representantes da Ascofeg protocolaram um pedido de impugnação da chapa única com base justamente nesse artigo. O protocolo foi registrado no sistema SEI sob o número 04018-00000020/2025-52. No dia 16 de maio, foi informada pelo servidor da Administração Regional do Guará e membro do Comitê Gestor, Tiago Falcone, que o pedido havia sido encaminhado à Comissão Eleitoral. Até o fechamento desta matéria, em 19 de maio, não houve qualquer resposta oficial da Comissão. Procurada pela reportagem da Folha do Guará, a presidente Rosevelth se limitou a dizer que “responderia depois”, mas manteve o silêncio.
A atual crise é reflexo direto de anos de omissão do Governo do Distrito Federal, que ignorou sua obrigação legal de nomear um gerente de feira e de intermediar a cobrança da taxa de rateio prevista no Art. 14 da Lei nº 6.956. A má gestão contribuiu para o surgimento de um passivo milionário, estimado em R\$ 2 milhões, envolvendo dívidas com o INSS, fornecimento de energia e ações trabalhistas. Em vez de colaborar com a regularização da feira, o GDF escolheu o caminho da intervenção forçada.
Somam-se a isso as promessas não cumpridas. Em 2021, o governador Ibaneis Rocha prometeu uma ampla revitalização da feira. O que se viu, porém, foi uma obra inacabada e mal executada, com reformas cosméticas nos banheiros, aplicação de resina de baixa qualidade no piso, pintura precária e um telhado que continua a vazar, apesar de um gasto de R$ 1,5 milhão.
Enquanto isso, a Feira do Guará — que movimenta cerca de 50 mil pessoas por semana — segue ameaçada por interesses políticos e pela tentativa de destruição de sua organização histórica. A pergunta que fica é: quem lucra com a destruição da Feira do Guará?
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