Operação de R$ 2 bilhões para aquisição do Banco Master pelo BRB gera críticas, suspeitas de irregularidades e revolta entre parlamentares. servidores públicos e na população do DF
Enquanto equipamentos públicos essenciais, como o Centro Administrativo Vivencial e Esportivo do Guará (CAVE), enfrentam abandono e falta de manutenção, o Banco de Brasília (BRB), controlado pelo Governo do Distrito Federal, anuncia uma controversa operação para adquirir 58% do capital total e 49% das ações ordinárias do Banco Master, uma instituição privada com sede em São Paulo e histórico de fragilidade financeira. A transação está avaliada em R$ 2 bilhões e tem provocado indignação entre parlamentares, entidades sindicais e órgãos de fiscalização.
A negociação, anunciada no dia 28 de março, ainda depende da aprovação do Banco Central (BC) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). No entanto, os questionamentos já se multiplicam. O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) abriu inquérito para apurar possíveis irregularidades na operação, enquanto o Ministério Público de Contas (MPC) também foi acionado para investigar o uso de recursos públicos na transação.
“Negociata” e “escândalo”, dizem parlamentares
Na Câmara Legislativa do DF, o tema dominou o debate nesta semana. O deputado Chico Vigilante (PT) classificou a operação como uma “negociata” e ironizou a proposta: “O que mais assusta é saber que o BTG Pactual ofereceu R$ 1 pelo Master. Eu ofereço R$ 2”, declarou. Para ele, a compra não tem respaldo público e representa um desvio de foco do BRB, que deveria atender prioritariamente a população do DF.
Gabriel Magno (PT), também distrital, foi ainda mais direto: “É um escândalo. Nenhum parlamentar da base governista teve coragem de defender essa operação. Se até os aliados do governo desconfiam, é porque tem mutreta”. Segundo ele, os R$ 2 bilhões poderiam ser investidos na reforma das mais de 700 escolas públicas do DF, ou na recuperação de espaços como o CAVE, abandonado há anos.
Banco com “ativos apodrecidos”
A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) também condenou a transação. Em suas redes sociais, ela destacou que o Banco Master possui “ativos apodrecidos”, incluindo uma carteira concentrada em precatórios, o que, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), compromete sua liquidez. “O BRB está salvando o banqueiro, mas sem ter qualquer controle sobre a gestão do Master”, criticou. “Ibaneis, tire as mãos do BRB, ele é do povo de Brasília.”
Além da falta de transparência, os críticos destacam que o BRB, mesmo após adquirir a maior parte do capital, não terá maioria nas ações com direito a voto. Daniel Vorcaro continuará como controlador, mantendo 51% das ações ordinárias. A marca BRB será a única a operar, mas os dois bancos seguirão com gestões distintas.
Sindicatos e sociedade civil reagem
O Sindicato dos Bancários de Brasília publicou nota expressando “profunda preocupação” com a compra. A entidade alerta que a operação pode comprometer a segurança econômica do BRB, cuja folha de pagamento inclui milhares de servidores públicos. “A responsabilidade na gestão do BRB está em jogo. Essa compra levanta sérios questionamentos sobre os impactos no patrimônio público e na economia do DF”, diz o texto.
A deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania) protocolou requerimento para que o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, seja convocado à Câmara Legislativa. Já Fábio Felix (Psol-DF) acionou o Ministério Público de Contas, que deve investigar se houve favorecimento indevido a interesses privados.
BC e grandes bancos monitoram
A pressão chegou ao Banco Central. O presidente da instituição, Gabriel Galípolo, convocou uma reunião com os principais bancos do país (Itaú, Bradesco, Santander e BTG Pactual), além do Fundo Garantidor de Créditos, para discutir a operação. A audiência está marcada para este sábado (5), em meio à repercussão negativa no mercado e na imprensa.
Apesar disso, o governador Ibaneis Rocha defende a operação, argumentando que os dividendos obtidos com o crescimento do BRB serão usados em obras públicas. “Estamos entre os dez maiores bancos do país. Essa conquista representa mais capacidade de investimento em benefício da população”, disse durante a inauguração de uma obra no DF.
Enquanto isso, o CAVE...
Diante do contraste entre o abandono de equipamentos públicos como o CAVE, símbolo do esporte e lazer em Brasília, e os bilhões destinados à compra de um banco problemático em outro estado, a população se pergunta: quais são, afinal, as prioridades do Governo do Distrito Federal?
Com a infraestrutura pública em colapso, escolas sucateadas e hospitais sobrecarregados, a tentativa do BRB de se expandir à custa de um banco fragilizado parece, para muitos, um investimento de alto risco e baixo retorno social.
A Câmara Legislativa agendou uma audiência para a próxima segunda-feira (7), quando o presidente do BRB deverá prestar esclarecimentos à população e aos parlamentares. A sociedade civil e entidades sindicais prometem acompanhar de perto os desdobramentos.
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