Crônicas Guaraenses: É dia de feira

 

Por Delmiro de Alencar

A feira ê fascinante.  Além da diversidade de produtos - peixes, frutas, legumes, óculos, carteira, boina, calça, pastel, etc, etc e etc -, a feira oferece aconchego. A feira é um abraço afetuoso.  Cada feirante parece um parente próximo, tamanha a empatia que transbordam. A feira é uma família.  Sorrisos multicoloridos e cativantes nos quiosques e corredores.

- Olha o camarão: tratado e fresquinho -, chama - como quem canta - a vendedora.

A feira é música e poesia. Em uma das entradas, de frente para a Administração, quadros irretocavelmente mágicos. Leões e onças quase reais. Um Jesus Cristo e a coroa de espinhos nos traços precisos da fé. Uma paisagem bucólica que, só de olhar, a alma refresca-se e repousa.

A bela moça ingressa no pequeno provador de cortina, veste o macacão e sai mais deslumbrante que entrou, como no toque de uma vara mágica e como se fosse encenar uma peça de Shakespeare no palco iluminado. Depois retorna para testar outras peças e desfila pelos corredores, sorridente e irradiante.

No quiosque da dona Maria, o caldo de cana adoça o corpo e a prosa.

- Caldo de cana tem ferro e é um licor para a saúde.  Bebida de atleta -, afirma, como uma nutricionista formada pela labuta.

Apesar das dores da vida - perdeu a mãe para a COVID há três anos - exala entusiasmo a jovem de 65 anos.

O sorriso brota após a cana ingressar na máquina e o caldo escorrer lentamente no copo, que ela serve como se fosse um cálice.

Dona Maria é o espelho da feira no qual são refletidos infinitos sentimentos: afeto, carisma, compaixão, solidariedade, irmandade e muitos outros que nos levam tão longe, embora tudo seja tão próximo. Basta (deixar-se) sentir.

Se Carlos Drummond de Andrade fosse em uma manhã de domingo à Feira do Guará, certamente diria: “Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força jamais o resgata”.