Por Delmiro de Alencar
Há um certo encanto e espanto na pressa das pessoas com semblantes atrasados ou em cima da hora. O engarrafamento na entrada da agência bancária, a busca impaciente por uma vaga no estacionamento, a escolha breve de frutos na barraca, a compra do carregador para o celular, as cópias de documentos na papelaria e o gole rápido no caldo de cana destilam o pulsar da vida cadenciado e ditado pelos segundos após segundos do relógio.
- Correr é preciso -, parodiando o imenso poeta português. Mas será?
Em meio ao turbilhão do vai e vem do centro nervoso do Guará, onde estão instaladas as principais agências bancárias e comércio fervoroso, há um cidadão que destoa daquele cenário. Sentado, o vendedor de coco mira ao longe o horizonte como se estivesse hipnotizado pela serenidade. No carrinho amarelo, dois adesivos: Coco do Paraíba e outro, curioso, Fast Coco. Fast em inglês é “rápido”. Mas nada no entorno do estabelecimento móvel lembra a pressa e agonia daqueles que passam.
Mais um cliente encosta e ele, em fala pausada, anuncia as opções. Garrafas de R$ 4, R$ 8 e R$ 12. Após a escolha, ele enche caprichosa e lentamente a garrafa e entrega pacientemente ao cliente. Em meio ao turbilhão, age quase como um budista. E assim o tempo passa: sereno, para ele; intenso e agitado para os transeuntes. De repente, encostam dois conhecidos e embalam em assunto político. O vendedor de coco não dá a mínima, atende mais um cliente – garrafa de R$ 12,00 - e, no horário de sempre, começa a fechar o pequeno negócio. Naquele dia trabalhara sob chuva. A jornada pode ser azeda e ácida para muitos que passam por aquela breve esquina, mas, para Carlos Alberto, a vida transpira sempre doce como a água de coco . . . e calma.
Observar Carlos Alberto remete a uma frase do escritor e pintor alemão Hermann Hesse, autor do livro A magia de cada começo: “Para a arte de viver, é preciso saber a arte de ouvir, sorrir e ter paciência... sempre”.
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