Com o lema “Halloween que Nada: Aqui é o Dia do Saci” o brechó cultural localizado na QE 19, no Guará II, abre suas portas para o lançamento do Tarô Anarquismo Fantástico com discotecagem da Bolachões SoundSystem e da Lion Sound
Aproveitando o Dia do Saci, mesmo dia em que se comemora o Halloween, no dia 31 de outubro de 2021, o Brechó Cultural Xodó da Orfrida promoverá das 14h às 21h, na QE 19, Conj. "J", casa 05, no Guará II, o lançamento do “Tarô do Anarquismo Fantástico”, criado por Léo Pimentel (Amante da Heresia).
o Dia do Saci foi criado em 2003, com o intuito de resgatar e valorizar o folclore do nosso país, promover a cultura nacional e as tradições brasileiras. O Saci-pererê é uma das figuras mais emblemáticas do folclore brasileiro.
Além da performance-lançamento, que será realizada pelo Amante da Heresia, também haverá a discotecagem dos Bolachões SoundSystem e do Lion Sound, e a Pizzada (venda de pizzas) comandada por Martonio e CyberPãoQ.
O evento é uma realização independente e autogestionado com o apoio dos amigos e das amigas que realizarão as atrações e a venda de pizzas, além do Jornal Folha do Guará.
Xodó da Orfrida
O brechó cultural Xodó da Orfrida funciona desde julho de 2021 na QE 19. Como brechó ele abre de segunda à sábado com a comercialização de roupas, acessórios, sapatos, livros, Cd´s, DVD´s e plantas. Aos sábados e alguns domingos especiais são dias reservados aos eventos culturais, onde são seguidos todos os protocolos de prevenção à COVID 19.
O brechó foi Inaugurado em julho com exibição da videoarte "OrfridaBirg - a Exterminadora do presente distópico" de Amante da Heresia e no final do mês foi realizado o Sabadão Vinil Anos 80, com discotecagem de Martonio. Em agosto foi realizado o “Niver Micha – a Bruxa está solta” e o “Sarau Marciano - Declamar poesia? Não! Declamar Ficção Científica”.
Em setembro foi realizado o lançamento de “Padoca Vegana CyberPãoQ”, com degustação de pães, queijos e requeijões vegano e a Feijuca Veg, com feirinha de livros anarquistas, marginais e alternativos.
No início da segunda quinzena de outubro foi realizada a comemoração ao Dia Mundial do Pão com degustação de uma variedade de pães veganos salgados e doces.
O Saci Pererê
O folclore brasileiro é marcado por sua riqueza e grande diversidade, e as lendas que fazem parte dele sempre são um grande destaque. Entre essas, uma das mais conhecidas é a do saci-pererê, um ser negro e pequeno que habita as florestas e é conhecido pelas travessuras que realiza. A lenda do saci surgiu no Sul do Brasil, foi influenciada por elementos das culturas africana e indígena, e ficou nacionalmente conhecida por influência de Monteiro Lobato.
O saci-pererê é um ser mítico que habita as florestas e tem como grande característica o fato de ser travesso e pregar peças nas pessoas. Ele é um ser pequeno, com cerca de meio metro de altura, embora existam versões da lenda que falem que ele pode chegar a ter três metros de altura, se quiser.
Seguindo a descrição, na lenda saci é negro e possui apenas uma perna, com a qual se locomove rapidamente. É conhecido também por não possuir cabelos e nem pelos corporais, usar um gorro vermelho na cabeça e praticar o hábito do fumo pelo cachimbo. Algumas versões da lenda apresentam-no com olhos vermelhos, enquanto outras não trazem essa característica.
Uma das práticas mais comuns realizadas pelo saci é o ato de incomodar os cavalos, sobretudo durante a noite. Conta-se que o saci costuma sugar o sangue dos cavalos, além de amedrontá-los durante a noite, então sempre que os cavalos estiverem agitados à noite é porque um saci esteve lá. Um sinal de que de fato um saci tenha feito de suas travessuras com os cavalos são os nós e tranças que podem ser encontrados em suas crinas.
Saci também costuma incomodar os viajantes que encontra pela estrada. Ele assovia um som bem estridente que atormenta-os e deixa-os incomodados por não saberem de onde e de quem vem tal som. Além disso, costuma derrubar os chapéus usados pelos viajantes, danificar o freio das carroças, entre outras travessuras.
O saci também invade as casas para fazer suas brincadeiras. Ele pode queimar as comidas que estão sendo feitas, azedá-las, se já estiverem prontas, além de desaparecer com objetos, apagar a luz das lamparinas etc. O redemoinho já foi visto por muitos como obra do saci para levantar a folhagem e espalhar sujeira.
Durante esse fenômeno, a lenda conta, é possível capturar o saci. Para isso, basta lançar um certo tipo de peneira no meio do redemoinho. Aquele que captura o saci deve retirar o gorro de sua cabeça para que ele perca seus poderes sobrenaturais. O último ato é aprisioná-lo em uma garrafa com uma cruz desenhada nela. O objetivo dessa é impedir sua fuga.
Conta-se que o saci vive por 77 anos, sendo que, depois desse período, ele pode transformar-se em um cogumelo venenoso ou naqueles cogumelos que são encontrados nos troncos das árvores, os “orelha-de-pau”.
O estudo das origens das lendas do folclore brasileiro é alvo do interesse de diversos folcloristas. No caso do saci, esses estudos apontam que sua lenda remonta ao final do século XVIII ou começo do século XIX. Isso porque não existem relatos sobre saci nos primeiros séculos do período colonial do Brasil como existem de outras lendas, como a do curupira, que é mencionada em um relato de 1560.
A lenda do saci surgiu, segundo os estudos, na região Sul do Brasil entre os índios guarani. Conta-se que, a princípio, era conhecida no idioma tupi-guarani como çaa cy perereg. A influência dessa lenda no Sul foi tão grande que ela não ficou reclusa ao Brasil e espalhou-se pelos países vizinhos. Na Argentina, Uruguai e Paraguai, o saci-pererê é conhecido como yacy-yateré, e existem algumas diferenças entre essas versões.
O yacy-yateré, diferentemente do saci, não é careca e possui cabelos loiros, usa um bastão de ouro como varinha mágica (que o torna invisível) e um chapéu de palha. É anão assim como o saci, mas faz travessuras diferentes: os paraguaios acreditam que yacy-yateré atrai crianças para fazer maldade com elas: roubar, ou deixá-las loucas ou surdas, dependendo da versão.
Os argentinos, por sua vez, falam que yacy atrai moças solteiras para então engravidá-las e, diferentemente do saci brasileiro, aquele tem as duas pernas. As diferenças entre as lendas são resultados das diferenças das culturas que as influenciaram.
A lenda do saci, como citado, surgiu no Sul do Brasil, mas acabou espalhando-se por todo o território brasileiro e incorporando elementos de outras lendas regionais que apresentam seres com características parecidas, como a caipora, na região central do país, e o matintapereira, na região Norte.
Os folcloristas brasileiros também apontam diversas lendas de origem europeia que podem ter influenciado as características do saci. Um dos exemplos mais citados é o trasgo, um ser de pequena estatura que faz maldades e faz parte do folclore de Portugal. O hábito de fumar que o saci possui é atribuído à influência das culturas indígena e africana, nas quais esse ato era comum. Outro elemento da cultura africana é o fato do saci ter perdido uma das pernas após uma luta de capoeira.
Na origem da lenda do saci, ele era um protetor da floresta e, por isso, muitos consideram-no como um personagem derivado da lenda do curupira. Na medida em que sua história espalhou-se, ela foi incorporando outros elementos que fazem parte do folclore de cada região e que podem ser oriundos de outras culturas.
Até o começo do século XX, a lenda do saci era muito conhecida nos rincões do país, mas, por meio de Monteiro Lobato, ela ganhou nova importância e dimensão. Esse é um famoso escritor do começo do século XX que ficou famoso por ter criado uma das histórias infantis mais conhecidas do Brasil: Sítio do pica-pau-amarelo.
A associação de Monteiro Lobato com a lenda do saci iniciou-se em 1917, quando o escritor realizou um inquérito no jornal O Estado de São Paulo, com o objetivo de colher respostas dos leitores a respeito do que eles sabiam ou tinham ouvido falar sobre ela. O retorno foi considerável, e Monteiro Lobato recebeu dezenas de respostas dos leitores do jornal.
Com base nessas respostas, o escritor e folclorista sistematizou a lenda do saci para dar origem ao livro Sacy-pererê: resultado de um inquérito, publicado em 1918. Esse livro foi o primeiro no Brasil sobre a lenda do saci e foi o responsável por espalhá-la por regiões que não a conheciam. Em 1921, Monteiro Lobato adaptou a lenda para o público infantil ao publicar O saci, livro que faz parte da coleção do Sítio do Pica-Pau-Amarelo.
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