A série de reportagens publicada pelo Correio Braziliense nos últimos dias mostra que é sombria a situação da Escola de Música de Brasília, que já foi uma das referências em ensino musical na América Latina. Como deputado federal, tenho dedicado, nos últimos anos, recursos do Orçamento da União para melhorias da EMB. Jogar a Escola de Música de Brasília na vala comum dos muitos sacrifícios que se imporá à população, sob o argumento de uma crise administrativo-financeira, é atentar contra a história da cidade.
Leia a íntegra do artigo publicado na edição de hoje do jornal Correio Braziliense, em Opinião
A palavra crise tem dominado o conteúdo das principais discussões, seja no âmbito do GDF, seja no âmbito do Governo Federal. Mas se o cenário de problemas é indiscutível, e sabemos quem são os culpados, isso não pode servir de desculpa para sacrificar setores importantes da sociedade, como a educação e a saúde pública.
O caos administrativo em que sucessivos governos mergulharam o Brasil, e nos últimos anos, também, infelizmente, Brasília, se reflete na degradação dos serviços públicos, sacrificando em especial aqueles que mais precisam da ação do governo, que são as comunidades mais carentes.
Além dos grandes temas nessas áreas, causa-nos preocupação o desmantelamento de um patrimônio de Brasília, caso da Escola de Música. São sombrias as notícias dos últimos dias dando conta da situação agonizante daquela que já foi uma das referências em ensino musical da América Latina.
Do passado glorioso resta pouco ou quase nada. A Escola de Música de Brasília é hoje o retrato do descaso com a educação e a cultura. Muito mais que a estrutura física precária e o estado lastimável de boa parte dos instrumentos musicais à disposição de professores e alunos, a EMB sofre também com a falta de uma política clara de valorização da instituição que há poucos anos era motivo de orgulho para nós moradores de Brasília.
Como integrante da bancada federal do DF, tenho dedicado recursos do Orçamento da União para melhores na EMB. É verdade que são valores ainda insuficientes para o resgate da instituição, mas servem como sinalização da importância que nós parlamentares dedicamos ao assunto.
Por outro lado, o GDF também precisa carrear mais recursos para a EMB, que não pode ser vista pelas autoridades governamentais como mais uma escola da rede pública de ensino do DF.
Para dizer o mínimo, é risível o valor de pouco mais de R$ 15 mil reais destinados pelo Programa de Descentralização Administrativa e Financeira da Secretaria de Educação à EMB de janeiro até agora. Para recuperar a condição de instituição de referência no ensino da música, a EMB precisa voltar a ser tratada com a deferência que merece e a diferença que representa em relação ao ensino convencional.
Esta visão diferenciada da EMB, por sinal, precisa ir muito além da questão administrativo-financeira. É um equívoco incluir a instituição no rol das tradicionais escolas técnicas, que têm grande importância no cenário educacional brasileiro, mas , na prática, em nada se assemelham ao modelo de uma escola que se destina ao ensino da música.
Hoje são mais de 2,4 mil alunos divididos em 80 cursos, que atraem estudantes não só do DF, mas de diferentes regiões do Brasil. Os cursos de verão que anualmente movimentam nossa cidade no início de cada ano enchem de orgulho a todos nós que gostamos de ver Brasília retratada na imprensa local e nacional por temas engrandecedores como é o caso da música e suas muitas vertentes.
Jogar a Escola de Música de Brasília e tudo o que ela representa para nossa cidade na vala comum dos muitos sacrifícios que se imporá à população sob o argumento de uma crise administrativo-financeira é atentar contra a história da cidade. Assim como a própria música é um símbolo de criatividade e inspiração, as autoridades do GDF precisam encontrar caminhos para tirar a EMB da penumbra que hoje paira sobre toda a comunidade musical que orbita sobre aquela instituição.
Essa comunidade que trabalha, estuda ou usa a EMB no dia-a-dia precisa urgentemente ser ouvida sobre um modelo que preserve e até resgate a qualidade do ensino na Escola de Música de Brasília. Muitas personalidades do meio musical local e nacional passaram um dia por aulas ou apresentações artísticas na EMB e elas são a principal prova da importância da instituição para o cenário artístico brasiliense e brasileiro.
Partir para o simplismo de considerar a EMB como mais uma das centenas de instituições de ensino do DF é nivelar por baixo um patrimônio que há 52 anos faz do ensino da música muito mais que um sacerdócio, mas uma verdadeira sinfonia de boas ações que enobrecem a história dessa cidade que tanto amamos.
Deputado federal Izalci (PDT/DF)
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