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Evasões na Universidade de Brasília causam prejuízo de R$ 95,6 milhões


Estudo interno mostra que mais de 6,3 mil alunos deixaram de concluir o curso apenas no ano passado. Educadores acreditam que despreparo escolar, imaturidade para escolha profissional e grade horária ampla da faculdade sejam algumas das razões para o problema

O estudante Raphael Xavier Gomes da Costa, 20 anos, sabia o que queria. “Tinha um desejo enorme de ser doutor em física quântica, mas não pensei se me encaixaria no perfil. Vamos para a universidade com uma ideia e, no fim, não é nada daquilo”, lamenta. O jovem achava o conteúdo interessante, era um bom aluno na disciplina durante o ensino médio, gostava de uma linha em específico e queria se aprofundar nisso. Mas, no primeiro semestre da faculdade, percebeu que o caminho dele era outro: a psicologia.


O estudante integra um conjunto de casos em estudo pela Universidade de Brasília (UnB). Dados da Comissão Própria de Avaliação, ainda não concluídos, revelam um alto número de evasão (veja ilustração). São 6.377 alunos envolvidos em trocas de curso, abandono, desligamento voluntário e desligamento por falta de rendimento, contra 4.022 formados. Isso apenas em 2014 — no total, há 28.570 matriculados. Além disso, neste ano, 171 pessoas mudaram de graduação entre o primeiro e o segundo semestre. Como cada aluno custa, por ano, em média, R$ 15 mil para a UnB, os prejuízos com evasão chegam a R$ 95,6 milhões.

O resultado chamou atenção para a necessidade de a UnB procurar respostas e soluções. “O fato de a evasão ser grande, já tínhamos uma ideia. Percebemos que isso varia de acordo com o curso. Por exemplo, representa 50% em física, mas é mínima na medicina”, exemplifica o decano de Planejamento e Orçamento, César Augusto Tibúrcio. Na avaliação dele, a troca de curso é pouco expressiva se comparada ao montante de alunos que pedem desligamento por falta de rendimento. A opção corresponde a quase 60% do total. “Isso tem algumas explicações, como alunos sem o conteúdo base para uma disciplina, que acabam travando em uma matéria. Estamos estudando maneiras de agir nisso e dar reforços. É preciso investimento para que não haja esse abandono, principalmente por parte dos estudantes de baixa renda”, explica.

Para a professora da Faculdade de Educação da UnB Olgamir Francisco Carvalho, discute-se muito o acesso ao ensino superior, mas pouco se fala da permanência. “A universidade não considera, por exemplo, questões de trabalho e muitas vezes coloca aulas das 8h às 18h”, comenta. Além disso, Olgamir destaca que as bolsas não são suficientes para subsidiar o custo de vida dos estudantes. “Tem toda uma sensação de pertencimento, de ir aos eventos, de comprar os livros. São variáveis que influenciam a estabilidade do jovem”, alerta.

Escolha - Raphael Xavier passou para física logo depois do 3º ano do ensino médio pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) e começou os estudos no primeiro semestre de 2013. “Saí da escola com uma visão e entrei na universidade com outra. É um choque. O imaginado versus a realidade. Vi que idealizei a física”, reconhece. Começou, então, a repensar a escolha. Profissionalmente, a ideia era trabalhar com pesquisa. “Pensei o que teria talento e competência para pesquisar e fazer aquilo de que gosto. Foi quando encontrei a análise do comportamento e a psicologia cognitiva, que são linhas mais científicas”, diz.

Na avaliação da professora Olgamir, a dúvida é um dos fatores que explicam o alto número de evasões. “A escolha tem sido em um momento em que o estudante até tem informação, mas não maturidade profissional para decidir”, avalia. Em pesquisa realizada em escolas credenciadas ao PAS, a educadora identificou que poucos trabalhos são feitos a título de orientar os jovens. “É preciso uma política pública de orientação profissional ao longo da vida, assim como o conceito de educação se firmou”, analisa. O trabalho deve começar na infância e chegar até depois da aposentadoria, podendo focar em momentos como o vestibular. “É um processo que acompanha vivências e problemáticas. Gera autoconhecimento e noção de aptidões.”

A estudante de economia Ana Tereza Pereira Libânio, 21 anos, também acredita que, além de se informar sobre o curso, é preciso se conhecer. “Até o 3º ano, tinha muitas dúvidas. Gosto de tudo. Não sou seletiva e, na escola, era a mesma coisa. Tinha certeza de que não gostava de artes e filosofia. Preferia matemática, história, geografia e geopolítica. Descobri que economia misturava isso tudo, então, decidi assim”, relembra. No entanto, ela não conseguiu vaga na UnB. Depois, tentou jornalismo e passou. Mas não gostou do curso. Como a grade da universidade é aberta, buscou disciplinas na economia e aproximou-se do departamento. “Vi que era aquilo o que eu queria. No terceiro semestre, quase não fiz matérias de jornalismo.” Foi, então, que a jovem optou pela transferência interna.


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