A deputada distrital Dayse Amarílio promoverá, no dia 3 de setembro, uma audiência pública para discutir o Projeto de Lei nº 31.429, que propõe a unificação e alteração dos nomes do Setor Habitacional Bernardo Sayão, Colônia Agrícola Águas Claras e Colônia Agrícola IAPI para o nome Setor Habitacional Guará Park (SHGP).
O evento será realizado às 19h, no Casarão de Festas Colunas do Campo, e pretende reunir moradores, lideranças comunitárias e representantes da sociedade civil para um debate amplo e transparente sobre a proposta. A audiência busca compreender a percepção da população sobre a mudança, esclarecer dúvidas e acolher sugestões, garantindo que a decisão reflita, de fato, a vontade coletiva.
A proposta tem como um dos principais objetivos fortalecer a identidade local e valorizar a relação histórica e afetiva dos moradores com o território. A mudança do nome também busca refletir a realidade cotidiana da comunidade, que já utiliza, informalmente, a designação “Guará Park” para se referir à região.
Segundo Dayse Amarílio, a audiência será uma oportunidade para que os próprios moradores sejam protagonistas da decisão: “Uma audiência pública é muito mais do que um debate técnico — é um momento de escuta ativa e construção coletiva. O Guará tem uma história viva, construída por quem mora, trabalha e convive aqui todos os dias. Por isso, qualquer mudança que toque a identidade de um território precisa ser feita com diálogo e participação. Queremos ouvir a população e garantir que a decisão seja fruto de consenso e respeito à história local.”
O projeto de lei é de autoria do deputado João Cardoso, com coautoria da deputada Dayse Amarílio, e tramita na Câmara Legislativa do Distrito Federal. A expectativa é que, após a audiência, o relatório do encontro contribua para o aprimoramento da proposta, servindo de base para decisões futuras no processo legislativo.
A audiência pública é aberta a todos os interessados, e a ampla participação da comunidade é essencial para que diferentes opiniões e experiências sejam levadas em conta. Trata-se de um momento importante para refletir sobre o pertencimento, a valorização da memória local e a construção de uma identidade urbana mais coerente com a vivência dos moradores.
1. Apagamento histórico de Bernardo Sayão
ResponderExcluirO nome de Bernardo Sayão carrega um peso simbólico muito grande para a história do DF e do Centro-Oeste. Ele foi pioneiro da engenharia rodoviária, braço direito de JK, responsável pela abertura da Belém-Brasília e símbolo do esforço de interiorização do país.
Ao unificar e adotar apenas “Guará Park”, corre-se o risco de “jogar na lixeira da história” essa memória — algo que o texto da audiência não problematiza.
A justificativa apresentada foca na “identidade afetiva” dos moradores atuais, mas não discute como lidar com a perda de um marco histórico nacional. Em termos de memória coletiva, a proposta soa mais como substituição do que como integração.
2. Fluxo de recursos e projetos da CLDF
O texto oficial fala em “fortalecer a identidade local” e “clareza para a população”, mas não entra no aspecto orçamentário e legislativo.
Projetos e emendas parlamentares muitas vezes são atrelados a setores/bairros específicos. A unificação pode:
Reduzir o número de áreas contempladas — já que, em vez de três designações distintas (Bernardo Sayão, Águas Claras, IAPI), passaria a haver apenas uma (“Guará Park”);
Concentrar recursos em um nome único, o que poderia significar menos frentes de investimento ou menos espaço para negociação política.
Esse ponto, que mexe diretamente no fluxo de grana dos projetos da Câmara Legislativa, está ausente da narrativa apresentada.
3. O que não está claro no texto
Impacto sobre a memória histórica: como preservar a homenagem a Bernardo Sayão?
Critérios objetivos da mudança: há estudos técnicos (urbanísticos, cartográficos, de planejamento) ou é apenas demanda popular difusa?
Efeitos na distribuição de recursos públicos: a alteração vai interferir em repasses, emendas e projetos já em andamento?
Participação real: a audiência pública servirá apenas como consulta simbólica ou terá peso vinculante na decisão?
📌 Em resumo: o discurso oficial reforça a ideia de “identidade comunitária e afetiva”, mas evita tratar de dois temas sensíveis — o risco de apagamento da memória de um personagem central da história do DF e os impactos práticos na destinação de recursos da CLDF. (Mário Pazcheco)